segunda-feira, 19 de maio de 2008

Rodovias se aprontam para pedágio

Uma série de obras emergenciais começa a dar nova cara às rodovias Fernão Dias (BR-381) e Régis Bittencourt (BR-116), leiloadas no fim do ano passado pelo governo federal. A três meses do início da cobrança de pedágio, cerca de 1,1 mil trabalhadores correm contra o tempo para deixar os 963 quilômetros de estradas em dia, conforme as regras estabelecidas pela Agência Nacional de Transporte Terrestre (ANTT). Até 15 de agosto, as rodovias precisam ter sinalização adequada, margens e canteiros centrais limpos e as pistas sem buracos, rugosidade e depressão acentuada. O objetivo nesses primeiros meses não é tornar a rodovia perfeita, mas dar um pouco mais de segurança ao usuário. Se esses requisitos não estiverem adequados, a vencedora do leilão (a OHL) não poderá iniciar a cobrança de pedágios - o que significaria enorme prejuízo para a companhia, que tem ações negociadas na Bolsa.Nas últimas semanas, os trabalhos foram intensificados. Até agora, foram tapados buracos equivalentes a 27,5 km de extensão, reconstruídos 43 km de pista, roçados mais de 500 km de mato e pintados 259 km de sinalização. Segundo a empresa, a situação poderia estar melhor se as chuvas não tivessem atrapalhado as obras. Ela garante, porém, que o prazo de 15 de agosto será cumprido. Das duas rodovias, a Régis Bittencourt foi a que apresentou maior transformação no trecho percorrido pela reportagem do Estado até a divisa entre São Paulo e Paraná. Conhecida durante muitos anos como a "Rodovia da Morte", a estrada teve melhorias surpreendentes no quesito pista. Boa parte dos buracos foi tapada, algumas pistas refeitas e as faixas de sinalização pintadas.Em quase toda a extensão do trecho paulista havia máquinas e homens trabalhando, seja na pista, roçagem do mato ou limpeza de canaletas. O local mais crítico é a Serra do Cafezal, onde a pista é simples. A duplicação da Serra, onde ocorreram cerca de 14% das mortes na rodovia em 2007, é projeto para alguns anos. Atualmente, a empresa precisa apenas tornar o trecho menos perigoso. O grande problema é que 70% do fluxo é de caminhões e qualquer obra provoca congestionamentos.No dia em que a reportagem percorreu a estrada, uma equipe da concessionária fazia a reconstrução de uma pista para fechar uma fissura onde cabia o pneu de uma moto. Foi o suficiente para causar 25 km de congestionamento, segundo a Polícia Federal. Esse tipo de situação deve ocorrer outras vezes, pois há vários trechos que serão reconstruídos. O diretor-superintendente da concessionária Autopista Régis Bittencourt, Eneo Palazzi, reconhece que pouco foi feito na Serra do Cafezal e que os transtornos serão inevitáveis. Segundo ele, as obras só podem ser feitas durante o dia, já que se trata de área perigosa e cuja temperatura cai significativamente na madrugada. Os motoristas reclamam dos congestionamentos, mas são favoráveis ao pedágio, desde que represente maior qualidade das estradas. Para o caminhoneiro Antonio Santos, que aguardava havia mais de uma hora na Serra do Cafezal, a privatização já deveria ter ocorrido há muitos anos, pois teria evitado vários acidentes e mortes.REVESTIMENTONa Fernão Dias, as mudanças também começam a aparecer, mas de forma mais tímida. A reportagem percorreu a rodovia entre São Paulo e Pouso Alegre, em Minas Gerais, e verificou que há muita obra para se fazer. O pior trecho fica na saída da capital até Mairiporã (SP), com buracos e depressões.Nesse caso, diz o diretor-superintendente da Autopista Fernão Dias, Omar de Castro Ribeiro Jr., a empresa optou pelo revestimento da pista em vez de tapar buraco, como previa a ANTT. A obra dá mais qualidade à rodovia e mais conforto ao usuário. Por enquanto, só a primeira das três pistas está em execução. Outra deficiência é a falta de sinalização. As pistas ainda não têm o chamado "olho de gato" (tachas) nas curvas e nem faixa pintada. Algumas placas estão cobertas pelo mato, mas o trabalho de roçagem foi reforçado. O caminhoneiro José Joaquim de Jesus, morador de Vargem, acha que a empresa já deveria ter feito mais intervenções na estrada. "Até agora, a empresa está mais preocupada em cortar o mato do canteiro central do que em tapar buraco. Deveria ser o contrário", reclama ele."Queria que a Fernão fosse como a Bandeirantes ou a Anhangüera. Você paga caro, mas pelo menos não gasta com o desgaste das peças do caminhão." Jesus diz que os defeitos na pista já quebraram até a suspensão de seu veículo. Um pneu que agüentaria rodar 120 mil km não suporta mais que 80 mil.Nem todo mundo está feliz com a concessão das estradas. Isso porque a melhora da rodovia significará obedecer à regra de faixa de domínio. Ou seja, as tradicionais barracas de frutas que se estendem por toda a Fernão Dias terão de ser retiradas.É o caso de Paulo Francisco de Moura, que há 13 anos vende morangos à beira da estrada. Com três filhos para sustentar, ele teme perder a principal fonte de renda. "Quero fazer um projeto e enviar para os engenheiros da empresa para ver se consigo continuar aqui." Segundo ele, de Cambuí a Pouso Alegre há cerca de 200 pessoas que sobrevivem da venda de frutas na Fernão Dias.

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